PROFISSIONALIZAÇÃO DA GESTÃO DA EMPRESA FAMILIAR
- Nilson Andrade Jr.

- 17 de dez. de 2020
- 3 min de leitura
Abaixo cito algumas situações que podem fazer parte da realidade das empresas familiares tanto de forma isolada como de forma simultânea, que no início do empreendimento não afeta o resultado da empresa, mas com o seu desenvolvimento, passam a interferir no crescimento da organização:
· No início do ciclo de vida de uma empresa, quando o capital é escasso e a operação é menos complexa, muitos dos colaboradores são contratados com base na confiança que o fundador tem nessas pessoas. Não há critérios claros para contratação, avaliação de desempenho e retenção de talentos, é tudo na vontade e feeling do fundador. Com a expansão e consolidação no mercado, a empresa passa a ter uma maior complexidade em suas atividades, exigindo novas competências e habilidades das pessoas envolvidas.
· Com a entrada de familiares e das novas gerações na empresa, pode-se agravar a situação, havendo a denominação de cargos e funções importantes por nepotismo. É o sonho do fundador que o filho trabalhe com ele, então o filho é colocado em uma função sem estar preparado para tal e sem o acompanhamento necessário, ou o próprio filho não queria estar trabalhando na empresa.

· O conhecimento sobre as operações de determinado área ou processo especifico está única e exclusivamente na cabeça de certas pessoas chaves.
· A principal função do líder é apagar “incêndio” no dia a dia da empresa, ou seja, resolver problemas da operação, não havendo planejamento estratégico estruturado para o crescimento da empresa.
· A empresa vira uma extensão da casa e vice-versa, com assuntos familiares sendo debatidos e interferindo em assuntos da empresa ou questões empresariais sendo discutidos em ambientes familiares, como em festas de aniversário.
· Gestão e controles da operação são fracos, sem indicadores de desempenho, orçamentos, reunião de gerenciamento e acompanhamento, etc. Funcionários trabalhando sem um objetivo comum.
· Funcionários não familiares desmotivados devido ao favoritismo, nepotismo e sem ter perspectiva de crescimento profissional na empresa. Há um alto turnover.
· Falta de transparência nos números e resultados.
· Ausência de um organograma. Não há uma definição clara dos cargos e suas respectivas responsabilidades.
· Dentre outras.
Com todos esses possíveis acontecimentos, alguns empreendedores mais atentos passam a se questionar sobre a necessidade de mudanças na empresa, mais especificamente, a profissionalização da organização. Ao se depararem com esse questionamento não sabem por qual caminho seguir, o que seria realmente “profissionalizar” a empresa? Já outros empresários quando vão perceber a necessidade já é tarde demais e entra para a estatística de mortalidade de empresas familiares.
Diferentemente do que muitos pensam, profissionalizar a empresa não é substituir todos os gestores familiares por executivos do mercado. Profissionalizar a empresa, segundo o professor Fabio Mizumoto, está relacionado com a definição de um modelo de gestão, de estabelecer critérios e parâmetros para que, independente do profissional (familiar ou do mercado) que estiver desempenhando alguma função na empresa, seja alcançado os objetivos da organização.
A Governança Corporativa, assim como, a Governança familiar são partes importantes nesse processo de profissionalização. A primeira consiste no sistema de estruturas e processos pelo qual as empresas e organizações são dirigidas, controladas e estimuladas. Já a Governança Familiar é o sistema pelo qual a família desenvolve suas relações e atividades empresariais, com base em sua identidade (valores familiares, propósito, princípios e missão) e no estabelecimento de regras, acordos e papéis, evitando que a empresa vire uma extensão da casa do fundador.
Juntas elas trazem coerência à organização, alinhando interesses, mitigando conflitos e contribuindo para uma melhor gestão organizacional de modo que o valor econômico das organizações seja conservado e aumentado no longo prazo, além de trazer harmonia familiar.
Com uma estrutura de Governança robusta e atuação profissional, a empresa familiar consegue diversos benefícios que podem não ser triviais a primeiro momento, mas que faz todo sentido. Alguns desses benefícios são um melhor Valuation e uma maior liquidez, ou seja, a empresa se torna mais valiosa e mais atraente para ser vendida rapidamente; uma maior facilidade e menores taxas na obtenção de crédito em bancos e outras fontes; atração de talentos do mercado; entre outros. Tudo isso devido a empresa já ter toda sua documentação organizada, seus números financeiros transparentes, estruturas e processos robustos o suficiente para manter a operação da empresa independentemente do fundador e ausência de conflitos familiares.
No entanto, deve-se tomar o cuidado para que ao longo do processo de profissionalização não se perca a cultura familiar criada pelo fundador da empresa, mantendo a essência da família no negócio. Além disso, evitar enrijecer demais a tomada de decisões, não burocratizar demais a empresa a ponto de perder sua agilidade e flexibilidade na tomada de decisão, o que é considerado uma vantagem das empresas familiares. Estabeleça uma estrutura que favoreça e sustente o crescimento de forma organizada, pois sem organização a empresa tem seu crescimento limitado.





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