EMPRESA FAMILIAR OU NÃO FAMILIAR?
- Nilson Andrade Jr.
- 27 de jul. de 2020
- 4 min de leitura
Atualizado: 1 de set. de 2020
O estudo sobre empresas familiares tomou a atenção de pesquisadores em meados do século passado, com algumas dissertações isoladas e simples, como a de Christensen em 1959, que abordava os problemas enfrentados pelas empresas de comando familiar nos Estados Unidos. O início de estudos sistemáticos e mais aprofundados sobre o assunto ocorreu a partir da década de 1980, por institutos de pesquisa originados com o intuído de tratar especificamente sobre o assunto. Com isso, a lacuna de conhecimento que havia sobre o assunto diminuiu, porém, ainda com trabalhos de abordagens limitadas.
Apesar de sua importância no contexto econômico mundial, o interesse acadêmico e de pesquisa sobre empresas familiares é relativamente recente, com grandes avanços nas últimas décadas. Para os autores está havendo uma conscientização a respeito da particularidade das empresas de natureza familiar, tanto para administradores como para a própria administração pública, de modo a admitir seu caráter familiar como sendo uma característica e um diferencial dessas organizações.
Elucidou-se nos recentes estudos que as empresas familiares se diferenciam das demais não apenas pelo sentimento envolvido, mas, também, pela sua forma organizacional peculiar. É transferido para a realidade da empresa as tradições, os valores e as prioridades da família, que são aspectos advindos da história, da identidade e da linguagem vivida por essa família no passado. Desse modo, gera-se uma cultura empresarial que fortalece, de forma especial, o negócio. Esse elo maior advindo do amor familiar e do trabalho, pode fomentar um nível de comprometimento, dedicação, investimentos de longo prazo e ações rápidas, almejados por empresas de caráter não familiar.
Dois pontos considerados como essenciais na vida de grande parte das pessoas são o trabalho e suas famílias. É compreensível o poder que organizações conseguem alcançar ao associar ambos elementos já que, de forma natural, essa associação promove o grande diferencial das empresas familiares. As tradições, os valores e as prioridades, ao procederem de uma fonte comum, criam uma união entre os indivíduos que buscam um mesmo ideal.
A definição sobre empresas familiares foi um dos aspectos mais trabalhados por estudiosos, tendo assim uma grande gama de definições e concepções, que podem ser vistas na Tabela 1. Algumas delas são baseadas no conteúdo, outras no objetivo, tendo também aquelas oriundas da forma das empresas familiares. Ademais, há aquelas que descrevem as características dessas empresas comparativamente aos outros tipos de empresas.
Uma gama de discussões que surgem, recorrentemente, ao definir e conceituar as empresas familiares são:
· "Quais são as fronteiras da família?"
· "O conceito de empresas familiares deve se limitar à existência de uma única família controladora ou pode considerar várias? Existe um limite de famílias proprietárias para caracterizar uma empresa familiar?"
· "A partir de que momento histórico se pode começar a falar em empresa familiar? Já na primeira geração ou somente a partir da segunda geração?"
· "O que se entende por controle? É o controle do capital? Dentro de quais proporções?"
TABELA 1 - Conceitos de empresas familiares de diversos autores

Fonte: Adaptado de Casillas, Vázquez e Díaz (2007), Campos, Bertucci e Pimentel (2008).
Para alguns especialistas, é impraticável e, tampouco, recomendado classificar, como tem sido feito nos últimos anos, as empresas em familiares e não familiares. Uma empresa é caracterizada como familiar de modo multidimensional, que varia de mais a menos em uma maneira contínua; em outras palavras, uma empresa segue uma escala de maior para menor participação, influência e compromisso dos familiares no empreendimento. Desse modo, as concepções simplistas dicotômicas de empresa como familiares e não familiares devem ser evitadas, visto que não há uma fronteira clara entre elas.
No entanto, de modo geral, as definições estão relacionadas com três aspectos principais:
a) “a propriedade ou controle sobre a empresa, que pode ser expresso pela porcentagem de participação que uma família possuí no capital da empresa”;
b) "o poder que a família exerce sobre a empresa, normalmente pelo trabalho nela desempenhado por alguns membros da família", ou seja, a família desempenha funções executivas na empresa, assumindo a direção e gestão dela;
c) "a intenção de transferir a empresa a futuras gerações e a concretização disso na inclusão de membros dessa nova geração na própria empresa", ou seja, de dar continuidade sobre a gestão e propriedade da empresa pelos sucessores.
Pensando nisso e buscando medir a influência da família sobre a organização, os autores Astrachan, Klein e Smyrnios propuseram a escala F-PEC. Esta é formada e calculada com base em três dimensões: poder, experiência e cultura. Embasado no índice F-PEC, Uhlaner propôs uma escala para verificar o grau de comprometimento e influencia familiar na empresa. Essa escala chamada de Guttman é aplicada em cima de seis parâmetros: "propriedade familiar da empresa, presença de familiares na gestão, proporção de familiares na equipe diretiva, influência da família na estratégia da empresa, planos de transferência da empresa à geração seguinte e auto reconhecimento da empresa como familiar".
Autor: Nilson Andrade Jr.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAMPOS, E.; BERTUCCI, J. L.; PIMENTEL, T. D. Empresas familiares longevas: Fatores que impactam sua continuidade. Nova Lima: Fundação Dom Cabral, 2008. Disponível em: < http://acervo.ci.fdc.org.br/AcervoDigital/Relat%C3%B3rios%20de%20Pesquisa/Relat%C3%B3rios%20de%20Pesquisa%202008/0802.pdf>. Acesso em: 18 Jun 2020.
CASILLAS, J.; VAZQUEZ, A.; DIAZ, C. Gestão da Empresa Familiar: Conceitos, Casos e Soluções. São Paulo: Thomson Learning, 2007.
GERSICK, K et al. De geração para geração: ciclos de vida das empresas familiares. 4. Ed. Rio de Janeiro: Alta Books, 2017.
MATESCO, K. A problemática da sucessão em empresas familiares e a instrumentalização da governança corporativa: um estudo de caso. Dissertação (mestrado) – Fundação Getulio Vargas, Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas. 81 f. Rio de Janeiro, 2014. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/12275/dissertacao_mex_versao_final_completa.pdf>. Acesso em: 18 Jun 2020.
RICCA, D. Da empresa familiar à empresa profissional. São Paulo: CLA Cultural, 1998.
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