MODELO DE 3 CÍRCULOS

Visando um maior entendimento a respeito dessa forma peculiar de empresa foram criados diversos modelos conceituais. Um modelo bastante utilizado até os dias de hoje é o de dois sistemas, que foi criado por Tagiuri e Davis nos anos 80. O modelo consiste em dois círculos que representam dois subsistemas familiares superpostos: a família e a gestão. Cada círculo é marcado por suas próprias normas, regras de admissão, estruturas de valores e organizacionais. Assim, ele é utilizado para análises de comportamento organizacional complexo, estratégia, competitividade e dinâmicas familiares por pesquisadores, acadêmicos, consultores e outros profissionais.

Complementando o modelo de dois círculos, criou-se o modelo de três círculos da empresa familiar, no qual foi inserido subsistema propriedade ao sistema. Desse modo, esse modelo esquematiza três diferentes âmbitos que existem simultaneamente nas empresas familiares: a gestão, a propriedade e a família. Qualquer pessoa em uma empresa familiar pode ser inserida em um, dois ou nos três círculos, dependendo do vínculo que essa pessoa mantém com a família, com a propriedade e com a gestão da empresa. Esse fato leva a formação de setes áreas distintas formadas a partir da inter-relação dos subsistemas. A Figura 1 expõe o modelo e suas regiões, enquanto a Tabela 1 estabelece os critérios para categorizar os indivíduos no setor mais adequado, assim como seus principais interesses.

FIGURA 1 - Modelo de três círculos da empresa familiar

Fonte: Gersick et al., (2017)

TABELA 1 - Setores existentes no modelo de três círculos, com seus critérios de categorização e os interesses de seus membros

Fonte: Desenvolvido a partir de Casillas, Vázquez e Díaz (2007); Gersick et al. (2017); Campos, Bertucci e Pimentel (2008).

O modelo de três círculos foi bastante difundido e aceito pelo fato de ser teoricamente elegante e imediatamente aplicável na compreensão da origem dos conflitos interpessoais, dilemas de papéis, prioridades e limites em empresas familiares. Sua utilização clarifica o que de fato está acontecendo e o porquê de isso acontecer, visto que o modelo especifica os papéis e os subsistemas existentes, possibilitando o entendimento das interações na empresa familiar. Ademais, o modelo propicia a abordagem, sob diferentes pontos de vistas e racionalidades, das inter-relações presentes nas empresas familiares.

Um exemplo diz respeito a política de dividendos de uma organização familiar. Em um lado há uma pessoa enquadrada no setor 4 (proprietária/ membro da família/ não funcionária), no outro uma pessoa do setor 6 (membro da família/ funcionária/ não proprietária). A primeira deseja aumentar os dividendos e argumenta que essa é uma recompensa legítima para os integrantes da família e uma remuneração razoável sobre o investimento para ela como proprietária do negócio. Já o segundo indivíduo pode almejar reinvestir esse capital em uma expansão tendo em vista a criação de melhores oportunidades de alavancar sua carreira. Para agravar o cenário, essas duas pessoas podem possuir relação familiar, sendo irmãs ou primas, com relação emocional íntima.

E ai, pessoal! Com esse artigo vocês conseguem ter uma visão geral de como as diversas pessoas envolvidas na sua empresa ou na empresa que você trabalha possuem diferentes perspectivas e interesses? Como vocês acham que isso tem afetado os resultados familiares e empresariais da sua empresa?

Autor: Nilson Andrade Jr.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMPOS, E.; BERTUCCI, J. L.; PIMENTEL, T. D. Empresas familiares longevas: Fatores que impactam sua continuidade. Nova Lima: Fundação Dom Cabral, 2008. Disponível em: < http://acervo.ci.fdc.org.br/AcervoDigital/Relat%C3%B3rios%20de%20Pesquisa/Relat%C3%B3rios%20de%20Pesquisa%202008/0802.pdf>. Acesso em: 22 Abr 2020.

CASILLAS, J.; VAZQUEZ, A.; DIAZ, C. Gestão da Empresa Familiar: Conceitos, Casos e Soluções. São Paulo: Thomson Learning, 2007.

GERSICK, K et al. De geração para geração: ciclos de vida das empresas familiares. 4. Ed. Rio de Janeiro: Alta Books, 2017.

VIEIRA, F. P. Análise dos desafios estratégicos de uma empresa familiar em processo de sucessão: estudo de caso na cidade de João Monlevade – MG. Dissertação (mestrado) – Faculdade Novos Horizontes, Mestrado Acadêmico em Administração. 117 f. Belo Horizonte, 2008. Disponível em: <http://unihorizontes.br/novosite/banco_dissertacoes/160820091733542527.pdf>. Acesso em: 22 Abr 2020.